Equilibrado sobre o parapeito da velha ponte, ele sentiu o ar quente e abafado daquela noite de verão empurrando-o para a beirada. Duzentos metros abaixo, escondido no escuro, o rio chamava, sussurrando traiçoeiramente. Ele imaginava as pedras pontiagudas no leito do rio, já preparadas para a sua queda.
Chegara a hora.
A vida fora cruel com ele desde a sua infância — mas de uma forma discreta, quase gentil. Não houvera nenhuma tragédia para que os outros sentissem pena dele, nenhuma perda traumática cuja memória poderia ajudá-lo a chorar até conseguir pegar no sono nas noites solitárias. Não houvera nada impressionante — a sua vida tinha sido uma longa e monótona sequência de dias cinzentos seguidos de noites cinzentas, sem nem uma estrela para clarear o horizonte.
E agora ele estava cansado. Não amargurado, não desesperado, nem mesmo com pena de si mesmo; só cansado. Cansado de ter que assistir os outros estragando tudo, e depois ter que tentar juntar os cacos e arrumar a bagunça. Cansado de lutar noite e dia para manter sua família segura (em todos os sentidos desta palavra tão rica em significados), e depois ser acusado de tudo o que deu errado. Cansado de gastar toda sua força e seus recursos para mantê-los unidos, e depois sentir o enorme peso de estar sozinho no meio de estranhos conhecidos. Cansado da vida, cansado da luta, cansado de si mesmo.
Ele se imaginou dizendo a Rudyard Kipling: "Eu segui seu conselho e me tornei um homem — mas você não me avisou que seria tão terrivelmente solitário aqui!" E imediatamente ele respondeu a si mesmo, naquela sua mania peculiar: "Seria pior se eu fosse popular!" Porque não era realmente a solidão que o cansava. Nem era a falta de reconhecimento. Para ser honesto, ele nem sabia o que era — o que ele sabia é que ele não suportava a idéia de mais um dia de lutas e esforços por aquilo no qual ele cria.
E ele sabia que não conseguiria viver sem lutar! Outros conseguiam (parece que todo mundo conseguia!), mas ele não. Para ele, a única forma de viver era como ele sempre tentara viver: fazendo o que precisava ser feito, sem desistir.
Sim, esta era a única maneira de viver.
"E isso não é viver, meu caro!" ele disse para si mesmo. "Isso parece mais com morrer lentamente, dia a dia!"
Ele estava quase sussurrando agora: "Então vamos lá, acabe com isso! Um passo à frente, e seus problemas terminaram!"
Debatendo-se com seus pensamentos, ele entendeu que sua decisão já estava tomada. Na verdade, percebeu, desde o começo nunca houvera dúvida — desde quando, umas três horas atrás, ele deixou todos discutindo entre si, e saiu de casa.
A decisão se tornava mais nítida na sua mente, e trazia consigo uma convicção bem definida: ele tinha a coragem necessária para colocar esta decisão em prática. Não havia nenhum medo, nenhuma dúvida. Seria como todas as outras batalhas que ele havia enfrentado: não se hesita para ver se é possível ou não vencer o desafio, simplesmente se faz aquilo que precisa ser feito!
A clareza da situação, e a certeza da sua decisão, lhe trouxeram um grande alívio. Ele sentiu o peso de mil vidas cair dos seus ombros, despedaçar-se nas rochas lá embaixo, e ser levado embora rapidamente pela correnteza voraz. Ele ouviu o vento assobiando uma marcha fúnebre, enquanto as trevas enterravam sua tristeza, cabisbaixas. Dando uma última e misteriosa olhada para as trevas abaixo da ponte, ele virou-se e pulou.
O parapeito era mais baixo do que ele calculara, e ele se surpreendeu com a rapidez com que seus pés atingiram o asfalto. Sentindo o chão firme debaixo dos pés, ele viu a Lua saindo de trás da nuvem onde estivera escondida, assustada, e as árvores balançando os galhos em aplauso. Curvando-se rapidamente para sua platéia, e imediatamente sentindo vergonha do próprio ato, ele voltou para casa.
Cansado ainda, e triste. Mas uma tristeza com sombras de alegria e orgulho.
Ele se pegou falando, desta vez em voz alta: "Sobrevivo para lutar outra vez!" E imediatamente seu coração lhe respondeu: "Não seja melodramático, idiota! A luta continua; continue lutando!"
Apesar da vitória, ele não sentia euforia, nem mesmo um pequeno lampejo de esperança. Mas ele sabia que acabara de ganhar a maior vitória da sua vida, e que, mesmo havendo ainda muitas batalhas pela frente, a guerra havia sido vencida.
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