Wednesday 30 April 2014

A verdadeira riqueza

[escrito alguns anos atrás num fórum público, em resposta a um agnóstico que perguntou como minha fé havia influenciado minha condição presente]

No meio da correria de uma grande cidade, um jovem com pouco mais de vinte anos de idade virou as costas para um futuro promissor e seguiu o caminho que a sua fé indicava. Tolo ou sábio? Covarde ou corajoso?

Programando “main-frames” da IBM de dia para um órgão do governo, e concluindo um curso superior na mesma área à noite, uma parte dele estava desfrutando de cada minuto desta vida. Pascal, Cobol, cartões de 80 colunas, Dbase e Fortran pareciam uma doce melodia aos seus ouvidos.

Mas outra parte dele estava insatisfeito. Morando em uma das cinco maiores cidades do planeta, cercado de violência, impiedade e vícios, ela ansiava por algo mais profundo. Crendo num Deus pessoal, e num futuro eterno depois da morte, ele queria mais tempo para servir ao seu Deus. Os finais de semana eram tudo que ele tinha no momento; e a situação iria piorar. A correria diária ao seu redor, e a direção que sua carreira estava seguindo, ambos indicavam claramente que, nos próximos anos, ele estaria mais e mais envolvido com o universo dos computadores.

O que parecera como uma doce melodia começou a se assemelhar a um suspiro órfão; o que parecera um doce sonho no início, agora começava a exalar um perfume amargo. Assim, antes que a morte pudesse despertá-lo para uma eternidade de arrependimento e remorso, ele jogou tudo para o alto. Mudou-se de volta para o interior, abriu uma pequena loja, casou, e dedicou-se inteiramente a um outro tipo de vida. Uma vida onde as horas são mais longas, o “stress” e as exigências maiores, as recompensas imediatas menores, mas que traz consigo a promessa de alegria eterna.

Vinte anos depois, sentindo-se pensativo numa madrugada, ele meditava na decisão da sua juventude (uma decisão que mudara totalmente sua vida) e nos resultados dela. Ele morava na parte mais pobre de uma pequena cidade. Suas possessões terrenas se limitavam à casa onde ele morava, e um carro quase tão velho quanto as memórias da sua antiga carreira. Enquanto o mundo (ou, pelo menos, seus vizinhos) dormiam lá fora, ele olhou demoradamente para suas lindas filhas, que dormiam em paz (a mais velha, impetuosa e frágil como sua mãe; a do meio, quieta e temperamental, como ele; e a pequena, uma mistura maravilhosa de tudo). Virando-se para deixar o quarto delas, ele viu a Lua, espreitando por entre as folhas da árvore no quintal, refletindo em seu sorriso a paz que havia no coração dele. Ele voltou para sua cama e abraçou sua esposa, que havia permanecido com ele durante todas as mudanças, desafios e lágrimas dos anos anteriores.

Ela murmurou alguma coisa, sem acordar, e retribuiu seu abraço; e naquele instante ele entendeu, e agradeceu a Deus por ter se transformado num homem tão rico!

True riches

[written some years ago on a public forum, in reply to an agonistic who asked in what way had my faith influenced my present situation]

In the hubbub of a large city, a young man in his early twenties turned his back on a promising future to follow the path his faith desired. Foolish or wise? Coward or brave?

Programming main-frame IBM's during the day, and studying in the same field at night, part of him was thoroughly enjoying every minute of it. Pascal, Cobol, 80-column cards, Dbase, and Fortran seemed like sweet music to his ears. But part of him was unhappy.

Living in one of the five largest cities in the world, surrounded by violence, viciousness and vice, he longed for something more meaningful. Believing in a personal God, and in an eternal future after death, he wanted more time to dedicate to serving this God. Week-ends were all he had at the minute; and it was going to get worse. The hectic pace of life where he lived, and the direction in which his career was heading, both were sure signs that the next few years would see him more and more involved in the world of computers.

What had sounded like sweet music, slowly began to be eerily similar to an orphaned sigh; what had seemed like a sweet dream at first, slowly began to exude a bitter perfume. So before death had the opportunity to wake him up to eternal regret, he gave it all up. Moving back to the interior he opened a little shop, married, and threw himself body, soul and spirit into another kind of life. A life where the hours are longer, the stress and demands are greater, the immediate rewards fewer, and yet which has the promise of eternal joy.

Twenty years later, in a contemplative mood late one night, he looked back on the decision of his youth (life-changing, to say the least), and on what he had turned out to be. He lived in the poorer part of a small town. His earthly possessions were limited to the house where he lived, and a car nearly as old as his memories of his past career. As the world (or at least, his neighbours) slept outside, he gazed down for a long time on the sleeping form of his darling little girls, sleeping so peacefully (the elder, impetuous and vulnerable like her mother; the middle one, quiet and moody like himself; and the little one, a charming mixture of everything he loved). As he turned to leave their room he saw the moon, gazing through the leaves of the tree in the garden, reflecting in her smile the peace in his heart. He went back to bed, and cuddled up close to his sleeping wife, who had been with him during all those changes, challenges and tears.

As she murmured in her sleep and returned his embrace, he bowed his heart in happy gratitude before God, and thanked Him for how rich he had turned out to be.

Wednesday 2 April 2014

O gnosticismo no filme "Noah"

Você já deve ter ouvido falar do filme “Noah”, que conta a história do Dilúvio. Um escritor norte-americano (Brian Mattson) escreveu um artigo sobre o filme, deixando claro que o filme não é baseado na história bíblica do Dilúvio, mas que é uma propaganda do gnosticismo presente na Kabala (o corpo imaterial de Adão e Eva antes da Queda, vestidos de luz, e não de carne e ossos, Lameque usando a pele da serpente do jardim do Éden para abençoar Noé, o “criador” que todos adoram, etc.).

Devo esclarecer que não assisti, e não pretendo assistir, o filme. Não posso defender as opiniões de Mattson. Mas repasso aos outros o link que recebi, para quem desejar saber um pouco mais sobre o filme. Várias pessoas tem criticado o artigo de Mattson, mas é interessante que não desmentem as afirmações dele sobre o forte apelo gnóstico do filme; apenas parecem querer argumentar que o conteúdo gnóstico do filme não é prejudicial.

Como disse acima, não vou assistir o filme, e não estou tentando dizer que você não deve assistir; mas quero divulgar esta opinião, “a quem interessar possa”.

O artigo original: Sympathy for the devil.
Um artigo do mesmo Mattson comentando algumas críticas: The real issue.