Monday 1 April 2019

A ponte

Equilibrado sobre o parapeito da velha ponte, ele sentiu o ar quente e abafado daquela noite de verão empurrando-o para a beirada. Duzentos metros abaixo, escondido no escuro, o rio chamava, sussurrando traiçoeiramente. Ele imaginava as pedras pontiagudas no leito do rio, já preparadas para a sua queda.

Chegara a hora.

A vida fora cruel com ele desde a sua infância — mas de uma forma discreta, quase gentil. Não houvera nenhuma tragédia para que os outros sentissem pena dele, nenhuma perda traumática cuja memória poderia ajudá-lo a chorar até conseguir pegar no sono nas noites solitárias. Não houvera nada impressionante — a sua vida tinha sido uma longa e monótona sequência de dias cinzentos seguidos de noites cinzentas, sem nem uma estrela para clarear o horizonte.

E agora ele estava cansado. Não amargurado, não desesperado, nem mesmo com pena de si mesmo; só cansado. Cansado de ter que assistir os outros estragando tudo, e depois ter que tentar juntar os cacos e arrumar a bagunça. Cansado de lutar noite e dia para manter sua família segura (em todos os sentidos desta palavra tão rica em significados), e depois ser acusado de tudo o que deu errado. Cansado de gastar toda sua força e seus recursos para mantê-los unidos, e depois sentir o enorme peso de estar sozinho no meio de estranhos conhecidos. Cansado da vida, cansado da luta, cansado de si mesmo.

Ele se imaginou dizendo a Rudyard Kipling: "Eu segui seu conselho e me tornei um homem — mas você não me avisou que seria tão terrivelmente solitário aqui!" E imediatamente ele respondeu a si mesmo, naquela sua mania peculiar: "Seria pior se eu fosse popular!" Porque não era realmente a solidão que o cansava. Nem era a falta de reconhecimento. Para ser honesto, ele nem sabia o que era — o que ele sabia é que ele não suportava a idéia de mais um dia de lutas e esforços por aquilo no qual ele cria.

E ele sabia que não conseguiria viver sem lutar! Outros conseguiam (parece que todo mundo conseguia!), mas ele não. Para ele, a única forma de viver era como ele sempre tentara viver: fazendo o que precisava ser feito, sem desistir. Sim, esta era a única maneira de viver.

"E isso não é viver, meu caro!" ele disse para si mesmo. "Isso parece mais com morrer lentamente, dia a dia!"

Ele estava quase sussurrando agora: "Então vamos lá, acabe com isso! Um passo à frente, e seus problemas terminaram!"

Debatendo-se com seus pensamentos, ele entendeu que sua decisão já estava tomada. Na verdade, percebeu, desde o começo nunca houvera dúvida — desde quando, umas três horas atrás, ele deixou todos discutindo entre si, e saiu de casa.

A decisão se tornava mais nítida na sua mente, e trazia consigo uma convicção bem definida: ele tinha a coragem necessária para colocar esta decisão em prática. Não havia nenhum medo, nenhuma dúvida. Seria como todas as outras batalhas que ele havia enfrentado: não se hesita para ver se é possível ou não vencer o desafio, simplesmente se faz aquilo que precisa ser feito!

A clareza da situação, e a certeza da sua decisão, lhe trouxeram um grande alívio. Ele sentiu o peso de mil vidas cair dos seus ombros, despedaçar-se nas rochas lá embaixo, e ser levado embora rapidamente pela correnteza voraz. Ele ouviu o vento assobiando uma marcha fúnebre, enquanto as trevas enterravam sua tristeza, cabisbaixas. Dando uma última e misteriosa olhada para as trevas abaixo da ponte, ele virou-se e pulou.

O parapeito era mais baixo do que ele calculara, e ele se surpreendeu com a rapidez com que seus pés atingiram o asfalto. Sentindo o chão firme debaixo dos pés, ele viu a Lua saindo de trás da nuvem onde estivera escondida, assustada, e as árvores balançando os galhos em aplauso. Curvando-se rapidamente para sua platéia, e imediatamente sentindo vergonha do próprio ato, ele voltou para casa. Cansado ainda, e triste. Mas uma tristeza com sombras de alegria e orgulho.

Ele se pegou falando, desta vez em voz alta: "Sobrevivo para lutar outra vez!" E imediatamente seu coração lhe respondeu: "Não seja melodramático, idiota! A luta continua; continue lutando!"

Apesar da vitória, ele não sentia euforia, nem mesmo um pequeno lampejo de esperança. Mas ele sabia que acabara de ganhar a maior vitória da sua vida, e que, mesmo havendo ainda muitas batalhas pela frente, a guerra havia sido vencida.

Tuesday 24 April 2018

Lego smart-phone holder

A simple lunch-break project: a smart-phone stand with old Lego bricks. Adjustable inclination, ideal for taking photos with a timer. Adjust the position, press the button and run to get yourself into the frame :-)





Locking mechanism to avoid vertical position (which would probably knock down your smart-phone).



Mechanism for moving the platform.




Reduction gears, for smooth and slow movement of platform.










© 2018 W. J. Watterson

Suporte para celular com Lego

Um projeto simples, desenvolvido no intervalo do almoço, apresenta um suporte para celulares feito com tijolos Lego antigos. Tem inclinação ajustável, ideal para tirar fotos com "timer". Ajuste a posição, aperte o botão, e corra para incluir-se na foto :-)




Trava para não chegar na vertical e derrubar o smart-phone.



Mecanismo que moviementa a plataforma.




Engrenagem de redução, para a movimentação da plataforma sem suave e lenta.










© 2018 W. J. Watterson

Monday 7 August 2017

Prato "restaurado"

Um vídeo online apresenta uma forma maravilhosa de colar um prato quebrado usando leite quente. Parece inacreditável. E talvez seja!

Um detalhe interessante no vídeo é que o prato que é tirado do leite não é o mesmo prato que foi colocado lá (eu confesso que não percebi; minha filha Larissa teve a visão mais aguçada!). Confira na imagem abaixo:


Os círculos ilustram várias diferenças entre os pratos (e existem outras, para quem tiver tempo sobrando :-)

Isto não quer dizer que a técnica não funciona; talvez o prato foi trocado para efeitos de gravação. Talvez o leite realmente cole pratos. Mas podiam ter caprichado mais no vídeo :-)
 
Moral da história: não acredite em tudo que você vê online :-)

Saturday 24 June 2017

Lágrimas ...

Ah, como é gostoso chorar!
Quando a angústia tenta acuar,
O coração se derrete em lágrimas
Rebeldes, insubordinadas, mas legítimas.
E é nessa sinceridade ardente
Que a alma sedada sente
O alívio da sua dor
Pela dor.

Não, é claro, um alívio imediato!
Aliás, na dor, sabe-se por fato
Que a alegria almejada é pequena,
Como quando a chuva cai serena.
Mas é nesse bálsamo regrado
Que a alma sente agrado,
Mais do que na explosão
Da paixão.

Não tento parar essa chuva mansa:
As lágrimas anunciam bonança!
Caiam livremente, diluindo a dor,
Abafem destas chamas o calor;
Lavem os recantos da minh’alma,
E sussurrem brandamente: Calma

© Paddy Ryan (24/07/2017)

Tuesday 12 January 2016

Adults love drinking milk

I have just finished reading Kara Brown's rant against milk (how much of it is serious, how much is tongue-in-cheek, I leave to your discretion). She presents her arguments clearly and dogmatically, but once you sift through them, there's really not much left. Basically it boils down to this: 60% of the world's population is lactose-intolerant. So what? I belong to the other 40%; should I stop drinking milk because 60% of my fellow-human beings can't digest it properly? Where is the logic in that?

So, here goes a light-hearted rant against the rant. I highlight every "point" she makes, and present my counterpoint.
Fact: Milk is for babies and children.
Counter-fact: just slapping the label "fact" on to something doesn't make it a fact, Kara! Now here's a fact for you: 90% of Northern European adults are able to digest milk (according to ABC news). I am Northern European; I can digest milk; ergo, milk is for me.
Point: No other species can digest milk after babyhood.
Counterpoint: I belong to the human species, so I'm not really interested in what other species can (or can't) digest!
Point: Babies drink milk because they can't digest anything else and they need to fatten up and get nutrition somehow.
Counterpoint: I'm not a baby; what works (or doesn't) for babies has no influence on the question at hand, which is whether adults can (or should) drink milk!
Point: You can get calcium from plenty of other foods.
Counterpoint: I don't drink because of it's calcium benefits, but simply because I like it!
Point: It's gross.
Counterpoint: What can I say? You're really grasping at straws here, Kara. Why on Earth do you consider milk "gross"? Because it's "thick, cloudy water", as you wrote? Because it's white? Because ... you've no real arguments against it?

So, my dear Kara, I will now allow you to thank me for removing the guilt from your conscience. Drink away, and enjoy it. Like everything else, don't overdo it, but don't stress out over it.

Cheers.

Tuesday 29 September 2015

Hallelujah

The song "Hallelujah" has become extremely popular. The melody is really nice and, notwithstanding its simplicity, evokes grand emotions. As a Christian, however, I can't enjoy Leonard Cohen's original lyrics. Even though he has Scriptural references (David and Bathsheba, Samson and Delilah), the original poem  is certainly not biblical (casting doubt on the existence of God, etc.).

It's true that the original poem is ambiguous, and Cohen himself has never explained clearly its meaning — but I've always thought that "Hallelujah" deserved God-exalting lyrics (after all, the word means "Praise God").

In 2013 I wrote a little poem in Portuguese which can be sung to this tune. Recently a group of friends presented me with their version of my poem, which I uploaded to Youtube. And last night, on the suggestion of an old friend from N Ireland, I decided to try and translate it into English.

And here you are (for what it's worth, and with a bonus verse):

Hallelujah

When nights are bright as brightest day,
When clouds are smiling o'er my way,
    And the gentle breeze is humming in my ears ...
I bow my head and bend my knee,
My heart lifts up its voice to Thee
    And offers up a grateful hallelujah.

When skies are grey and overcast,
When clouds are weeping hard, and fast,
    And the wailing wind awakens sleeping tears ...
I look beyond my foolish fears,
I trust to Thee the coming years,
    And humbly sing to Thee my hallelujah.

When storms are breaking in my heart,
When tender dreams are torn apart,
    And the raging wind adds terror to my fears ...
My spirit still looks up to Thee,
With aching heart I bend my knee,
    And whisper through my tears: "Lord, hallelujah!"

--------------------------------

I know not how to read the skies,
I know not why the storms arise,
    And I know not why the pain still lingers on ...
But Thou hast whispered in my ear:
"Just trust in Me. Oh, do not fear!"
    And trusting, still I sing my hallelujah.

© 2015

Friday 3 April 2015

Dengue e alimentação

Baseado num estudo da Associação Brasileira de Nutrição

A Internet está cheia de informações sobre a dengue; algumas confiáveis, outras nem tanto. Apresento abaixo uma simples lista de alimentos que devem ser evitados por quem está com dengue, e algumas sugestões de alimentos que podem ajudar quem está procurando se re-erguer. A lista foi composta baseada num estudo feito pela Associação Brasileira de Nutrição, conforme reportagem publicada no site do G1.

Evitar o seguintes alimentos, pois possuem salicilatos, que além de potencializar os efeitos da dengue, podem, como consequência, piorar a condição da pessoa diagnosticada com a doença:

Abricó;
Ameixa fresca;
Amêndoa;
Amora;
Batata;
Cereja;
Groselha;
Limão;
Maçã;
Melão;
Morango;
Nectarina;
Nozes;
Passa;
Pepino;
Pêssego;
Pimenta;
Tangerina;
Tomate;
Uva.

Evitar também os seguintes alimentos, que apesar de não possuírem os salicílicos, são alimentos de ação antitrombótica, ou seja, fazem o mesmo efeito:

Alho;
Cebola;
Gengibre.

Por outro lado,  procure comer:

Hortaliças, principalmente as de folhas verdes escuras;
Frutas e sucos moderadamente diluídos para ajudar na hidratação, dando preferência para suco de laranja, acerola, abacaxi ou caju, que são ricos em vitamina C.

No caso das carnes, preferir as de cortes magros e as brancas sem pele.

Wednesday 30 April 2014

A verdadeira riqueza

[escrito alguns anos atrás num fórum público, em resposta a um agnóstico que perguntou como minha fé havia influenciado minha condição presente]

No meio da correria de uma grande cidade, um jovem com pouco mais de vinte anos de idade virou as costas para um futuro promissor e seguiu o caminho que a sua fé indicava. Tolo ou sábio? Covarde ou corajoso?

Programando “main-frames” da IBM de dia para um órgão do governo, e concluindo um curso superior na mesma área à noite, uma parte dele estava desfrutando de cada minuto desta vida. Pascal, Cobol, cartões de 80 colunas, Dbase e Fortran pareciam uma doce melodia aos seus ouvidos.

Mas outra parte dele estava insatisfeito. Morando em uma das cinco maiores cidades do planeta, cercado de violência, impiedade e vícios, ela ansiava por algo mais profundo. Crendo num Deus pessoal, e num futuro eterno depois da morte, ele queria mais tempo para servir ao seu Deus. Os finais de semana eram tudo que ele tinha no momento; e a situação iria piorar. A correria diária ao seu redor, e a direção que sua carreira estava seguindo, ambos indicavam claramente que, nos próximos anos, ele estaria mais e mais envolvido com o universo dos computadores.

O que parecera como uma doce melodia começou a se assemelhar a um suspiro órfão; o que parecera um doce sonho no início, agora começava a exalar um perfume amargo. Assim, antes que a morte pudesse despertá-lo para uma eternidade de arrependimento e remorso, ele jogou tudo para o alto. Mudou-se de volta para o interior, abriu uma pequena loja, casou, e dedicou-se inteiramente a um outro tipo de vida. Uma vida onde as horas são mais longas, o “stress” e as exigências maiores, as recompensas imediatas menores, mas que traz consigo a promessa de alegria eterna.

Vinte anos depois, sentindo-se pensativo numa madrugada, ele meditava na decisão da sua juventude (uma decisão que mudara totalmente sua vida) e nos resultados dela. Ele morava na parte mais pobre de uma pequena cidade. Suas possessões terrenas se limitavam à casa onde ele morava, e um carro quase tão velho quanto as memórias da sua antiga carreira. Enquanto o mundo (ou, pelo menos, seus vizinhos) dormiam lá fora, ele olhou demoradamente para suas lindas filhas, que dormiam em paz (a mais velha, impetuosa e frágil como sua mãe; a do meio, quieta e temperamental, como ele; e a pequena, uma mistura maravilhosa de tudo). Virando-se para deixar o quarto delas, ele viu a Lua, espreitando por entre as folhas da árvore no quintal, refletindo em seu sorriso a paz que havia no coração dele. Ele voltou para sua cama e abraçou sua esposa, que havia permanecido com ele durante todas as mudanças, desafios e lágrimas dos anos anteriores.

Ela murmurou alguma coisa, sem acordar, e retribuiu seu abraço; e naquele instante ele entendeu, e agradeceu a Deus por ter se transformado num homem tão rico!

True riches

[written some years ago on a public forum, in reply to an agonistic who asked in what way had my faith influenced my present situation]

In the hubbub of a large city, a young man in his early twenties turned his back on a promising future to follow the path his faith desired. Foolish or wise? Coward or brave?

Programming main-frame IBM's during the day, and studying in the same field at night, part of him was thoroughly enjoying every minute of it. Pascal, Cobol, 80-column cards, Dbase, and Fortran seemed like sweet music to his ears. But part of him was unhappy.

Living in one of the five largest cities in the world, surrounded by violence, viciousness and vice, he longed for something more meaningful. Believing in a personal God, and in an eternal future after death, he wanted more time to dedicate to serving this God. Week-ends were all he had at the minute; and it was going to get worse. The hectic pace of life where he lived, and the direction in which his career was heading, both were sure signs that the next few years would see him more and more involved in the world of computers.

What had sounded like sweet music, slowly began to be eerily similar to an orphaned sigh; what had seemed like a sweet dream at first, slowly began to exude a bitter perfume. So before death had the opportunity to wake him up to eternal regret, he gave it all up. Moving back to the interior he opened a little shop, married, and threw himself body, soul and spirit into another kind of life. A life where the hours are longer, the stress and demands are greater, the immediate rewards fewer, and yet which has the promise of eternal joy.

Twenty years later, in a contemplative mood late one night, he looked back on the decision of his youth (life-changing, to say the least), and on what he had turned out to be. He lived in the poorer part of a small town. His earthly possessions were limited to the house where he lived, and a car nearly as old as his memories of his past career. As the world (or at least, his neighbours) slept outside, he gazed down for a long time on the sleeping form of his darling little girls, sleeping so peacefully (the elder, impetuous and vulnerable like her mother; the middle one, quiet and moody like himself; and the little one, a charming mixture of everything he loved). As he turned to leave their room he saw the moon, gazing through the leaves of the tree in the garden, reflecting in her smile the peace in his heart. He went back to bed, and cuddled up close to his sleeping wife, who had been with him during all those changes, challenges and tears.

As she murmured in her sleep and returned his embrace, he bowed his heart in happy gratitude before God, and thanked Him for how rich he had turned out to be.

Wednesday 2 April 2014

O gnosticismo no filme "Noah"

Você já deve ter ouvido falar do filme “Noah”, que conta a história do Dilúvio. Um escritor norte-americano (Brian Mattson) escreveu um artigo sobre o filme, deixando claro que o filme não é baseado na história bíblica do Dilúvio, mas que é uma propaganda do gnosticismo presente na Kabala (o corpo imaterial de Adão e Eva antes da Queda, vestidos de luz, e não de carne e ossos, Lameque usando a pele da serpente do jardim do Éden para abençoar Noé, o “criador” que todos adoram, etc.).

Devo esclarecer que não assisti, e não pretendo assistir, o filme. Não posso defender as opiniões de Mattson. Mas repasso aos outros o link que recebi, para quem desejar saber um pouco mais sobre o filme. Várias pessoas tem criticado o artigo de Mattson, mas é interessante que não desmentem as afirmações dele sobre o forte apelo gnóstico do filme; apenas parecem querer argumentar que o conteúdo gnóstico do filme não é prejudicial.

Como disse acima, não vou assistir o filme, e não estou tentando dizer que você não deve assistir; mas quero divulgar esta opinião, “a quem interessar possa”.

O artigo original: Sympathy for the devil.
Um artigo do mesmo Mattson comentando algumas críticas: The real issue.

Friday 21 February 2014

Avô, bisavô, trisavô, tetravô, ...

Art by Mike Lloyd
Conversando poucos dias atrás com alguns irmãos, ficou evidente nossa ignorância sobre a nomenclatura correta para se referir aos nossos antepassados. Uma pesquisa no dicionário solucionou o problema, e mostrou o quanto eu estava enganado em relação a alguns termos (tataravô não é o pai do bisavô, mas o pai do trisavô). Então, para esclarecer de uma vez por todas esta questão, eis a lista oficial:

Pai e Mãe;
    Avô e avó;
        Bisavô e bisavó;
            Trisavô e trisavó (ou tresavô e tresavó);
                Tetravô e tetravó (ou tataravô e tataravó);

Alguns sites continuam a lista com pentavô, hexavô, heptavô, octavô, mas a validade destas palavras é duvidosa. Nenhuma delas é conhecida do Dicionário Priberam ou do VOLP (Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, do site da Academia Brasileira de Letras). Sendo assim, use-as por sua própria conta e risco :-)


Sunday 8 December 2013

Torta Portrush

Uma sugestão nova de sobremesa: torta recheada com chantili (chantilly) e marshmallow, coberta com musse (mousse) de chocolate. Batizo-a de Torta Portrush :-)


A base é feita de bolachas e manteiga (vai ao forno). O recheio é creme fresco batido com açúcar (à gosto) acrescido de marshmallows picados em pedaços bem pequenos. A cobertura é mousse de chocolate.

É uma delícia, e (mais ou menos) light (eu acho).

Sunday 24 November 2013

Você grita, mas ninguém ouve!

Se você está cansado de receber convites e notificações sobre jogos no Facebook, saiba que postar um recado pedindo para não receber mais estas notificações provavelmente não terá efeito nenhum (ou, pelo menos, terá muito pouco proveito). Isto porque a maioria destas notificações é enviada sem o consentimento, e sem o conhecimento, do autor. Ou seja, o seu cunhado chato provavelmente nem sabe que está lhe mandando 237 convites por dia para você jogar Candy Crush!

A solução, porém, é simples: para cada aplicativo que fica preenchendo sua Timeline com notificações, siga a ilustração abaixo. Clique na setinha que aparece no canto superior direito (a seta só aparece quando você leva o mouse até lá) e escolha a opção “Hide all from <Nome do Aplicativo>”.


Dá um pouco de trabalho se há muitos aplicativos perturbando seu sossego, mas vale a pena.

Monday 23 September 2013

Será?

Um intenso frio me envolve;
Será que a Natureza nos devolve
Toda a amargura que já recebeu?
    Ou será que apenas eu
        Tenho frio?

Um intenso amor me envolve;
Será que minha amada me devolve
Todo o carinho que já recebeu?
    Ou será que apenas eu
        Tenho amor?

(27/05/87 — escrito numa manhã gélida de Maio, de serviço no Quartel)

Saturday 21 September 2013

Pensando ...

Lá no alto, além das nuvens,
Eu me sento pra pensar.

Penso em coisas já passadas,
Sepultadas
Mas amadas.

Penso em dores
E amores,
Dissabores
Ou temores.

Penso em tudo, penso em nada,
Penso em não pensar em nada.

Penso em vão
(E sem razão!),
Penso em mim
(E no meu fim!).
Penso a vida
(E esqueço a morte),
Penso a lida,
Fraca ou forte.

Penso em tudo, penso em nada,
Penso até no tudo-ou-nada.

Até que a noite, entediada,
Diz “Adeus!” e vai dormir.
Então minha alma, aliviada,
Fecha os olhos, a sorrir…

(20/03/2000)

Thursday 12 September 2013

Chocante! Governos boicotam a cura do envelhecimento!

Realmente vivemos num mundo doente, onde a ganância e a sede pelo poder falam mais alto do que valores éticos e humanitários. Um grupo de cientistas, liderados pelo Irlandês Sir John Gibson, está tentando há seis meses, sem sucesso, conseguir apoio governamental para testarem uma metodologia revolucionária que, nas palavras de Sir Gibson,“tem o potencial para acabar, de uma vez por todas, com os efeitos prejudiciais do envelhecimento, permitindo a pessoas de qualquer classe social viverem perfeitamente saudáveis, e no pleno uso das suas forças, até o momento da sua morte.

Por que ninguém apóia este tipo de iniciativa? Ora, porque não é do interesse dos governos mundiais acabarem com o negócio altamente rentável chamado “envelhecimento”. Se fosse adiante esta cura para o envelhecimento, já pensou quantos profissionais perderiam seu emprego? Quantas clínicas e casas de repouso teriam que ser fechadas? Quanto imposto deixaria de ser pago?

E assim, por causa da ganância dos nossos governantes, parece que continuaremos com o mesmo problema de sempre.

Fico ainda mais revoltado quando penso em como a metodologia de Sir Gibson é simples e barata. Ele propõe uma nova forma de eutanásia, que ele está chamando provisoriamente de “nóstanaeuropa”. Consiste em matar qualquer pessoa que comece apresentar qualquer sintoma de envelhecimento, garantindo assim que aquela pessoa nunca sofrerá qualquer efeito prejudicial do envelhecimento. A simplicidade da sugestão é tão elegante, que beira o óbvio!

Por que ninguém pensou nisto antes? Esta reação é a marca de uma grande idéia — que, pelo visto, não poderá ser posta em prática.

Fica aqui meu protesto!

Monday 19 August 2013

Aleluia

A música "Hallelujah" se popularizou de forma impressionante. A melodia é extremamente bela e, apesar da sua simplicidade, evoca grandes emoções. Como cristão, porém, não posso apreciar a letra original de Leonard Cohen. Apesar de conter diversas referências bíblicas (Davi e Bateseba, Sansão e Dalila), o poema original não pode ser considerado bíblico, de forma alguma (colocando em dúvida, inclusive, a existência de Deus). É verdade que o poema original é ambíguo, e Cohen mesmo nunca quis explicar claramente o seu significado — mas sempre achei que Hallelujah merecia uma letra que exaltasse a Deus (pois a própria palavra quer dizer “Louve a Deus”).

O jovem cantor Jota A. apresenta uma versão em português. A sua voz é realmente muito bela, mas é uma pena que o autor da letra em português que Jota A canta (não sei quem é) usou de tanta liberdade com a métrica.

Por estas (e outras) razões, apresento abaixo uma letra em Português que pode ser cantada com a melodia original de Leonard Cohen (8.8.11.8.8.11) O primeiro verso fala de como louvamos a Deus na alegria. O segundo verso mostra como a fé nos leva a cantar “Aleluia” mesmo quando as coisas estão mais difíceis, enquanto o último verso contempla um coração destroçado pelas tempestades da vida, mas que ainda sussurra: “Aleluia”.

Algumas meninas muito especiais para mim gravaram, sob a liderança da Liége, uma versão desta poesia que está no Youtube.

Talvez seja preciso definir duas palavras usadas no poema:

Elegia: Poema sobre assunto triste ou lutuoso.

Crisol: 1. Recipiente em barro refratário, ferro ou platina utilizado para as reações químicas a altas temperaturas. 2. [Metalurgia] Parte inferior de um alto-forno onde se acumula o metal fundido. 3. Fig., provação.

Aleluia

Se o Sol sorri ao me acordar,
Se as nuvens tentam me abraçar
    E a brisa alegremente assobia,
Eu ouço então meu coração,
Com retumbante entonação
    Cantando, agradecido: “Aleluia”!

Se o Sol se esconde com pesar,
Se as nuvens choram sem parar
    E o vento entoa a triste elegia,
Eu olho para além do Sol,
Pro resultado do crisol,
    E pela fé eu canto: “Aleluia”!

Se o Sol fugiu sem avisar,
Se o vento e nuvens, ao brigar,
    Destroem minha paz e alegria;
Ainda em meio a minha dor,
Em prantos, se preciso for,
    Meu coração sussurra: “Aleluia”!

© 2013

Sunday 11 August 2013

The Bridge

Balancing precariously on the stone wall that ran along the side of the old bridge, he felt the hot, tepid air urging him to jump. Two hundred feet below, out of sight in the darkness, he could hear the river calling him, and imagined the jagged rocks in the river bed peering upwards, trying to pierce the darkness above their heads.

Life had been cruel to him all along — but in a sort of quiet, almost gentle way. There had been no tragedies to make people feel sorry for him, no heart-breaking loss whose memory he could use to cry himself to sleep during the lonely nights. It had just been a long, monotonous succession of grey days followed by grey nights, with not a star to lighten the horizon.

He was tired. Not angry, not despaired, not feeling sorry for himself — just tired. Tired of having to watch everyone make a mess of things, and then quietly try and pick up the pieces and glue them together. Tired of fighting day and night to keep his family safe (in every sense of that multifaceted word), and then being considered the cause of all that had gone wrong. Tired of spending all his strength and resources to keep them all together, and then feeling the awful weight of being alone amongst strange, familiar people. Tired of all that he endured — yet not in a selfish, self-pitying way.

He imagined himself telling Rudyard Kipling: “I followed your advice and became a man — but you didn’t warn me it would be so desperately lonely here!” And then he was answering himself, in that silly habit of his: “It would be worse if I were popular!” It wasn’t really the loneliness that weighed him down. It wasn’t the lack of recognition. To be honest, he didn’t really know what it was. But he knew he just couldn’t bear the prospect of another day of fighting and struggling for what he believed was right. And he knew he couldn’t live without fighting! Others could (it seemed everyone could!), but not him. The only way for him to live was as he had always tried to live: doing what had to be done, without ever giving up.

Yes, that was the only way he could live. “And that is certainly not living, mate!”, he was telling himself. “That is more like killing yourself slowly, day by day!” He was almost whispering now: “So come on, get it over with! A little step forward, and your troubles are over!”

Even as he struggled with his thoughts, he knew that his decision was already taken. It had been, all along — ever since he left them all arguing among themselves three hours earlier, and stormed out of the house. And as that realization slowly took shape in his mind, it brought with it another certainty: he had the courage to put that decision into action. There was really no fear, no doubts. It would be like all the other battles he had fought: you don’t stop to think whether you can do it or not, you just do what has to be done!

He felt the weight of a thousand lives fall off his shoulders, and strike the rocks below, being swiftly carried away by the raging current. He heard the wind singing a plaintive eulogy as the darkness greedily buried his woes. With a last, strange look at the darkness below, he jumped.

The stone wall was lower than he expected, and his feet met the road with a thump. The Moon reappeared from behind the cloud where it had been hiding, and the trees silently waved their bows, congratulating him. He bowed to his silent spectators, feeling somewhat foolish for doing so. Then he resolutely made his way homeward.

Tired, and sad. But in a kind of happy, proud way. He heard himself say, out loud this time: “I live to fight another day!” And immediately his heart answered: “Don’t be melodramatic, stupid! Just get on with it!”

It brought him no elation, not even a little glimmer of joy. But he knew he had just won his greatest victory ever, and that even though there were still many battles ahead, the war had been won.